Ismael Ivo

★ 17 de janeiro de 1955 - São Paulo -SP

† 08 de abril de 2021 - São Paulo -SP

Bailarino, coreógrafo, diretor e curador. Intérprete e criador expressionista, Ismael é reconhecido pela atuação em diversas áreas da dança, ao lado de notáveis grupos e em eventos internacionais. Como coreógrafo, cria espetáculos para cativar e comover o público. Como intérprete, apoia-se em sua técnica mista e presença cênica para o convencimento. Como diretor e curador, foca na sedução e na comunicação com suas plateias.

Em meio a múltiplas atividades, Ismael Ivo se define como um bailarino que vem da rua, revelando a origem humilde no bairro paulistano da Vila Ema e o momento de descoberta do desejo de se expressar por meio da dança.

Sua primeira referência no estudo da dança é a bailarina e professora Ruth Rachou (1927). A ela somam-se influências diversas, como os coreógrafos Klauss Vianna (1928-1992) e Renée Gumiel (1913-2006). Ambos abrem espaço para a pesquisa de Ivo, que discute a teatralidade da cena e a teatralização do corpo do intérprete.

Em consonância com a dança moderna da época e na fronteira entre as linguagens artísticas, seu trabalho se desenvolve durante a passagem pelo principal espaço de experimentação de bailarinos modernos em São Paulo, o Teatro de Dança Galpão, que funciona entre 1974 e 1981.

Em 1978, o encontro com o coreógrafo estadunidense Alvin Ailey (1931-1989) projeta a carreira internacional de Ismael Ivo. Ele se muda para os Estados Unidos para integrar a companhia júnior do coreógrafo, com quem dança, e também para desenvolver trabalhos individuais.

Em 1984, uma apresentação solo do bailarino é resenhada no jornal The New York Times. A crítica destaca a força da presença cênica do intérprete, além de pontuar o trabalho expressivo do frenesi, do medo e da exaltação. Neste e também em seus trabalhos posteriores, essas sensações se expressam pelo gestual, frequentemente expansivo, beirando o exagero, e pela máscara, recursos que refletem a intensidade daquilo que retratam.

Grandes emoções permanecem constantes no trabalho de dança e criação de Ismael, resgatadas sobretudo da memória do artista. É o caso, por exemplo, de Delirium of a Childhood, de 1989, em que, a partir de lembranças da infância, o coreógrafo cria uma cena em que aparece como versão infantil de si mesmo, brincando com um boneco próximo a uma bacia prateada. Na cena, ele também comparece como adulto que reflete sobre seu passado e ainda como os demais envolvidos em sua experiência.

Depois de Nova Iorque, muda-se para Viena, na Áustria, onde funda o ImPulsTanz, em 1984, junto do produtor e diretor Karl Regensburger (1954). Na Europa, cresce a proximidade com a dança expressionista e vertentes da dança-teatro, dentre as quais se insere sua produção.

Influenciado por artistas e colaboradores de múltiplas linguagens, encontra no bailarino e diretor teatral Johann Kresnik (1939-2019) um parceiro de pesquisa e trabalho. Em 1993, criam Francis Bacon, uma obra de dança-teatro para três bailarinos. O cenário do espetáculo usa uma grande parede metálica, cujas partes se transformam em mesas e camas cirúrgicas. Nesse ambiente, Ismael investiga o universo retratado nas obras do pintor irlandês, a partir de temas e personagens de seus quadros. O coreógrafo trabalha com uma sequência de pinturas que se identificam com a estética visceral de sua dança. O impacto é provocado pela violência dos movimentos criados pelo dançarino, que busca desenvolver dessa forma sua proposta de provocar grandes emoções.

A carreira de coreógrafo ganha nova projeção depois do encontro com a bailarina e coreógrafa Márcia Haydée (1937). Ismael trabalha em proximidade com a dançarina ao longo de cinco anos (de 1999 a 2004), como partner em obras conjuntas e assinando criações para outros grandes grupos pelo mundo.

Na Europa, consagra-se como diretor e curador, notadamente na Bienal de Veneza, e na direção da companhia de dança do Teatro Nacional Alemão. Como curador, seu trabalho se caracteriza pela antropofagia cultural: assimilação de referências e apresentação de distintas formas de fazer e pensar a dança, com foco declarado na comunicação com o público.

Em 2017, volta ao Brasil e assume a direção do Balé da Cidade de São Paulo (BCSP). A consideração pela plateia se reflete em seu trabalho de gestão, sempre preocupado em atrair um público maior e mais diversificado, com atenção às questões de classe social e de inclusão racial e de minorias. Essa preocupação se manifesta na construção estética das obras do diretor e coreógrafo, que apresentam grande elaboração visual e temas musicais conhecidos do grande público. Em 2018, o BCSP apresenta os espetáculos Um Jeito de Corpo (2018), com músicas de Caetano Veloso (1942), e Sagração da Primavera, com a trilha do compositor russo Stravinsky (1882-1971). Esta apresentação também conta com chuva de pétalas de rosas ao longo do espetáculo e móveis que alteram constantemente o espaço da cena. Esses artifícios de cena são uma marca de sua gestão da companhia, que procura seduzir o espectador e despertar o interesse do público pela obra.

Internacionalmente reconhecido, Ismael Ivo tem uma carreira de projeção. Com assinatura expressiva e expressionista em seu trabalho de criador, preocupa-se em construir suas obras com base em memórias e experiências pessoais. Como diretor e curador, é notável a preocupação com o interesse do público pelas obras, com especial atenção à comunicação com o espectador, observável nas muitas instituições por que passa.